22 de maio de 2014

Pais atenciosos, filhos seguros




Já sabemos que a ausência física dos pais ou cuidadores até aos 12 meses têm impacto significativo no desenvolvimento das crianças, mas mais recentemente a investigação revela que a falta de disponibilidade psicológica na primeira infância, por doença (ex: depressão) ou por motivos profissionais (ex: pouco tempo e qualidade de interação com os filhos), pode gerar sentimentos nas crianças (futuramente adultos) semelhantes aos de perda efetiva do prestador de cuidados.

Estes sentimentos negativos interferem no reconhecimento do seu valor pessoal e na construção de um modelo interno equilibrado de interação com o meio. Uma vez que a interpretação que fazemos dos acontecimentos, interações e pessoas surgem a partir deste modelo que construímos desde pequenos, e, conduz o nosso comportamento na vida.

Ou seja, a qualidade da relação de vinculação (ligação ao Outro significativo) no início de vida é determinante para a qualidade das relações futuras, consigo próprio e com os outros.

De uma forma simplificada podemos dizer que, se a criança teve um cuidador disponível para atender as suas necessidades (comida, afeto) constrói uma representação de si, do mundo positiva e segura, tendo por isso um padrão de interação seguro no futuro, mesmo face a dificuldades. Sendo posteriormente mais resiliente e com uma melhor gestão dos níveis de stress. Pelo contrário, se a disponibilidade do cuidador foi intermitente ou inexistente, cria um padrão comportamental inseguro ou evitante. Tendo a criança em adulto, mais dificuldade em assumir a responsabilidade e iniciativa da sua ação. Sentindo menos controlo de si e das situações, sentindo-se menos capaz e por isso atingindo maiores níveis de ansiedade e stress.

Por isso pais, presentes ou futuros: pensem que podem querer dar tudo (Tablet, jogos e atividades) procurando enriquecer a vida do vosso filho. Mas o tempo que passam com ele a brincar também é como água que corre no rio… deixa marcas na margem, modifica o seu leito, que por sua vez interfere no curso da água, e esta não passa duas vezes no mesmo local…

Pais atenciosos geram filhos seguros!


5 de maio de 2014

Disciplina & Afeto



Imagine que está num supermercado e o seu filho chora e exige que lhe compre um brinquedo, um chocolate… qualquer coisa que lhe apeteceu… ou são horas de dormir, tomar banho, comer… e nasce uma batalha?... Reconhece?

Muitas vezes os pais perdidos de cansaço, de culpa por não terem tempo para serem pais, ficam “sozinhos” frente à difícil tarefa de educar os seus rebentos, ouvem os comentários de amigos e familiares que lhes dizem muito e nada.... porque “no meu tempo era um palmada e a birra acabava logo”. Os pais que procuram soluções ficam perdidos com tanta “orientação”!...

Toda a ação das crianças visa despertar a atenção dos pais, e toda a ação deve ter uma consequência, positiva ou negativa dependendo da ação, mas há a possibilidade de aplicar disciplina de forma afetuosa e eficaz se face ao comportamento inadequado, os pais:
- Tiverem uma ação-consequência imediata, porque as crianças têm uma memória de curto prazo. Se aplicar a ação mais tarde a criança não vai entender o porquê, logo, futuramente não inibe o comportamento inadequado.
- Se escolherem uma consequência que seja aplicável na maioria de situações semelhantes, ou seja, uma ação coerente. Assim, a criança cria um reportório de emparelhamento de ação-consequência que serve de guia autorientador.
- Se comunicarem de forma firme, pois a atitude com que expressam a consequência tem mais força do que os gritos, pois transmite que os pais estão seguros das regras que colocam e que as vão fazer cumprir, sempre!
- Se escolherem consequências concretizáveis, que sejam de fácil aplicação. Se ameaçam no calor do momento com consequências que não pode cumprir (ou não quer) perde a eficácia a curto prazo, pois a criança “aprende” que não acontece nada.
- Se protegerem a personalidade em desenvolvimento da criança, sendo justa, incidindo sobre a intenção e não sobre o ato em si. A criança que magoou outra mas sem intenção, a ação-consequência tem de ser diferenciada de outra com intenção. Da mesma forma, a criança que agiu mal não é “má” mas fez, teve um mau comportamento.
- Por fim, uma consequência que seja construtiva. É preciso oferecer uma justificação adaptada à idade e soluções alternativas quando dizemos que “não” há criança, para que ao longo do tempo ela construa um reportório de ações alternativas e positivas a ter em situações semelhantes.  Se é negado um pedido à criança, ela tem direito de ficar triste ou zangada, mas a expressão desse sentir é que tem de ser ajustada.

Claro que a tarefa de estabelecer limites torna-se mais difícil quando não existe acordo entre os pais quanto à medida corretiva a seguir, mas em caso de desacordo, devem evitar mostrá-lo à criança. Podem falar em privado e se for necessário alterar alguma medida que um já adotou, cabe a esse qualquer alteração ao que está imposto, para que a sua autoridade seja reforçada e não fragilizada aos olhos da criança.


Em suma, o “bom castigo” deve permitir a alteração do comportamento, por isso, antes de aplicá-lo, avise a criança com uma advertência, se ela persistir retire-a para um local mais sossegado e no percurso não a repreenda. Chegando ao local, que seja livre de distrações (brinquedo, TV...) explique-lhe que vai ficar ali a pensar no seu comportamento. Este time out tem um período limitado (com inicio e fim) colocado e levantado pelo adulto. Como orientação, um minuto por cada ano de idade que a criança tenha. Quando elas são muito pequenas não vão “pensar” no seu comportamento, mas o retirar para um local à parte ajuda a diminuir a agitação (choro, movimentos motores) e torná-la mais recetiva às correções do adulto. O que aumenta a probabilidade de alteração do seu comportamento no futuro. 


1 de maio de 2014

Equilíbrio e Esforço...




Quando estamos em esforço nas tarefas diárias, precisamos urgentemente olhar para dentro de nós, para encontrar o equilíbrio perdido. Quando vivemos de acordo connosco e não só a tentar responder as expectativas sociais ou do Outro, quando estamos centrados, o esforço não existe. Não significa ser irrealista ou egoísta, mas antes, o criar um espaço sereno e sagrado dentro de nós que será a âncora nos momentos difíceis.

Diariamente somos confrontados com fatores stressores, vindos da família, amigos, colegas e do trabalho que podem destabilizar a harmonia interior. Procurar cultivar continuamente a serenidade é tarefa de cada um, mas conseguimos se dedicarmos atenção a alguns aspetos... Procurando responder a questões centrais como quem Eu sou, que se altera continuamente, saber o que me move (sonho), e, acima de tudo, o que e/ou quem me tira a energia que preciso para me manter saudável.


Inspirado in "Aprendendo a viver comigo" de Sofia Martins